quarta-feira, 18 de março de 2009

Invista como Warren Buffett

O que o bilionário americano, um dos investidores mais admirados do mundo, tem a ensinar aos pequenos aplicadores

O bilionário americano Warren Buffett, um dos investidores mais bem-sucedidos de todos os tempos, costuma dizer que seu prazo favorito de aplicação é “para sempre”.

Quem tivesse isso em mente na década de 60, no início das atividades de sua empresa de investimentos, a Berkshire Hathaway, poderia ter ficado milionário. Mil dólares aplicados nas ações da companhia em 1965 teriam se transformado em cerca de 3 milhões de dólares em agosto de 2008. É verdade que o período engloba mais de 40 anos, mas uma alternativa similar de investimento — usar os mesmos 1 000 dólares para comprar os papéis que integram o índice S&P 500, da bolsa de Nova York — teria rendido pouco mais de 65 000 dólares.

O desempenho excepcional de Buffett é fruto de uma estratégia peculiar — e, para muitos, discutível. Diferentemente do que prega a maioria dos especialistas financeiros, Buffett não diversifica suas aplicações e ignora relatórios de previsões econômicas. Polêmicas à parte, o certo é que o jeito Buffett de fazer negócios tem se mostrado eficaz. Muito eficaz.

Com base em livros publicados sobre Buffett e em textos que ele próprio escreveu para apresentar os resultados de sua empresa aos acionistas, EXAME compilou algumas das principais lições do guru. Antes de lê-las, porém, vale um alerta: os conselhos não são um manual sobre como se tornar um ás do mercado financeiro.

Buffett aprimorou sua estratégia ao longo de mais de quatro décadas, quando adquiriu o controle ou participações majoritárias em centenas de companhias de diferentes tamanhos — da Coca-Cola à fabricante de doces See’s Candies. Hoje, administra um patrimônio de 280 bilhões de dólares. “Se alguém fizer um curso para aprender a jogar bola como Pelé, dificilmente vai conseguir reproduzir suas jogadas mais brilhantes.

Mas é inegável que poderá se tornar um jogador melhor depois das aulas”, diz Rui Tabakov Rebouças, dono da gestora de recursos Tabakov Capital, com sede em Nova York, e ele próprio co-autor de um livro sobre as estratégias do megainvestidor, Os Ensaios de Warren Buffett (edição do autor).

Ignorar análises macroeconômicas
“Trinta anos atrás, ninguém poderia ter previsto o imenso impacto da Guerra do Vietnã, de duas crises do petróleo, da renúncia de um presidente, da dissolução da União Soviética (...). Diferentes choques ocorrerão nos próximos 30 anos. Não tentaremos prevê-los nem lucrar com eles”, escreveu Buffett em carta aos acionistas da Berkshire Hathaway em 1994.

Ele atribui o sucesso de seus investimentos em empresas à combinação entre a análise criteriosa dos resultados e das perspectivas desses negócios e o valor de suas ações na bolsa. Seu lema é comprar bons negócios por baixos preços e, se possível, mantê-los por um longo prazo.

Aprender a avaliar empresas
Pode parecer complicado para o pequeno investidor, mas, com alguma dedicação, é possível avaliar empresas para tentar descobrir bons negócios, segundo Buffett. Como fazer? O primeiro passo é escolher poucas empresas para acompanhar — de preferência de um ou dois setores. O conselho de Buffett é se concentrar em mercados que o investidor já conheça ou entenda.

Por exemplo, alguém que passou a vida trabalhando em companhias de varejo terá mais condições de analisar supermercados e outras empresas do setor do que siderúrgicas. “Especialização e sucesso andam de mãos dadas”, escreveu Mark Tier, autor de Investimentos: Os Segredos de George Soros e Warren Buffett, publicado no Brasil pela editora Campus.
Definido o nicho, o passo seguinte é levantar informações sobre as empresas que serão analisadas. De forma geral, isso pode ser feito lendo os relatórios de análise de bancos e corretoras e os balanços anuais publicados pelas companhias abertas.

Mas também vale a pena buscar informações in loco. Uma história famosa sobre Buffett conta que, em 1965, ele passou cerca de um mês contando os vagões-tanque que passavam pela ferrovia de Kansas City. Buffett não estava interessado nos trens, mas numa empresa que fabricava aditivos para a gasolina transportada nos vagões. Queria saber se a demanda pelo produto estava aumentando. Quando os carregamentos, de fato, cresceram, ele comprou ações da empresa e embolsou um ganho de mais de 60%.

A recomendação de Buffett é procurar características que diferenciem a empresa de seus concorrentes — por exemplo, custos mais baixos de produção, uma marca consolidada ou a liderança isolada de um mercado. É o que ele chama de “fosso” ou “barricada”, isto é, algo que funciona como uma barreira e deixa as demais companhias do setor distantes.

Aproveitar a volatilidade
Uma vez que o investidor define em quais ações quer aplicar, o melhor negócio é comprá-las pelo menor preço possível. Por isso, diz Buffett, a volatilidade dos mercados é a maior aliada do “verdadeiro investidor”.

São os altos e baixos das bolsas de valores que permitem que papéis de empresas atrativas sejam comprados por preços baixos. Seu raciocínio, extraído de uma carta aos acionistas em 1997, é o seguinte: assim como quem vai trocar de carro de tempos em tempos — e não é uma montadora — deve preferir que os preços dos automóveis fiquem baixos, quem pretende poupar mais do que gastar nos próximos dois ou três anos deve torcer por um mercado de baixa.

“Somente aqueles que serão vendedores de ações no futuro próximo deveriam ficar felizes com sua valorização”, escreveu ele.

Pensar no longo prazo
Para conseguir ganhar com a instabilidade dos mercados, o investidor precisa, de fato, ter condições de deixar seu dinheiro aplicado por prazos longos — no caso da Berkshire Hathaway, isso significa manter uma ação em carteira por décadas. A Coca-Cola, por exemplo, faz parte de seu portfólio desde 1988. Isso não quer dizer, porém, que Buffett nunca venda as ações ou participações de empresas que possui.

“Ele se desfaz de alguma posição quando acha que a companhia não tem mais como se valorizar ou quando houve algum erro na sua avaliação”, diz Rui Tabakov, que organizou um seminário sobre investimentos que abordará vários aspectos da estratégia de Buffett e ocorrerá no início de setembro em São Paulo.

Não diversificar
Um dos conselhos mais repetidos no mundo dos investimentos é o que diz que a melhor forma de reduzir riscos é diversificar suas aplicações. Buffett pensa o contrário. Para ele, o risco aumenta quando se investe em muitas empresas, porque é impossível ter informações detalhadas sobre todas elas.

“Diversificação é uma proteção contra a ignorância e não faz muito sentido para aqueles que sabem o que estão fazendo”, diz ele, que mantém quase todo o seu patrimônio aplicado nas ações da Berskhire Hathaway. Até aqui, essa estratégia transformou Buffett no homem mais rico do mundo, com um patrimônio estimado em 62 bilhões de dólares.

"As ações são simples. Basta escolher grandes empresas gerenciadas por pessoas competentes e íntegras e comprar suas ações por um preço inferior ao seu valor intrínseco. Depois, basta manter essas ações para sempre." - Warren Buffett

"Grandes oportunidades de investimentos surgem quando empresas excelentes estão cercadas de circunstâncias incomuns que fazem com que a ação seja subvalorizada" - Warren Buffett

Fonte: Portal Exame

segunda-feira, 9 de março de 2009

Warren Buffett - Visão sobre a crise

Megainvestidor elogia ação do governo, alerta sobre bolha dos títulos públicos nos EUA e vê crise duradoura, mas aposta em superação.

O fundo Berkshire Hathaway teve em 2008 seu pior ano desde que começou a ser controlado pelo mega investidor Warren Buffett, na década de 60. O lucro do fundo caiu 62%, com o pior resultado concentrado no quarto trimestre. Na tradicional carta anual aos acionistas, Buffett, considerado o homem mais rico do mundo pela revista "Forbes", defendeu a atuação do governo dos Estados Unidos contra a crise e admitiu que cometeu uma série de equívocos. O megainvestidor alertou ainda para a formação de uma bolha no mercado americano de títulos públicos e admitiu que a crise pode ir além de 2009, mas mostrou otimismo com a capacidade da economia dos EUA em superar desafios. Veja abaixo alguns dos principais pontos da carta:

"Nós estamos certos, por exemplo, que a economia vai se arrastar durante 2009 - e provavelmente por mais tempo que isso. Mas isso não nos diz se o mercado de ações vai subir ou cair nos próximos meses."

"Nós vivemos uma disfunção do mercado de crédito, que rapidamente se tornou não-funcional em diversos aspectos. A senha ao redor do país é a mesma que eu via nas paredes de restaurantes quando eu era jovem: ‘Em Deus nós confiamos; todos os demais pagam em dinheiro’."

"A espiral degenerativa da economia obrigou o governo a tomar medidas em massa. Usando o vocabulário do pôquer, o Tesouro e o Fed [Federal Reserve, o banco central dos EUA] estão apostando todas as suas fichas. O remédio econômico tem sido distribuído a rodo. Essas doses, impensáveis há algum tempo, quase certamente terão seus efeitos colaterais. Cada um pode tentar adivinhar que efeitos serão esses, embora eu acredite que uma consequência provável seja um ataque inflacionário."

"Uma ação forte e imediata do governo era necessária no ano passado para evitar o total colapso do sistema financeiro. Se isso tivesse ocorrido, as consequências para todos os setores da economia teriam sido terríveis. Gostem ou não, os habitantes de Wall Street, Main Street e outras várias Side Streets de nosso país estão todos no mesmo barco."

"Em meio a essas más notícias, no entanto, nunca se esqueça de que nosso país teve de enfrentar dificuldades muito maiores no passado. (...) Nós superamos elas, sem falhar (...) Nossos melhores dias ainda estão por vir."

Sobre os derivativos de crédito
"Aumentar a transparência é o remédio favorito de políticos, comentaristas e órgãos reguladores das finanças para evitar que o trem volte a sair dos trilhos, mas isso não resolve o problema dos derivativos. Eu não conheço nenhum mecanismo de divulgação que chega perto de descrever e mensurar os riscos de um enorme e complexo portfólio de derivativos. Auditores não conseguem auditar esses contratos, e reguladores não conseguem regulá-los.

Quando eu leio as páginas de divulgação dessas informações no balanço das empresas, tudo que eu descubro é que eu não faço idéia do que está acontecendo em seus portfólios (e então eu procuro alguma aspirina)."

Sobre o mercado imobiliário
"A atual ruína do mercado imobiliário deveria servir como lições simples para compradores de casas, bancos, corretores e governos. A aquisição de casas deveria exigir o pagamento à vista de ao menos 10% do valor do imóvel e prestações mensais que caibam confortavelmente no orçamento do mutuário. A renda do comprador deveria ser cuidadosamente examinada."

"Colocar pessoas em casas, apesar de ser uma meta desejável, não deveria ser o primeiro objetivo de nosso país. Manter essas pessoas em suas casas deve ser a nossa ambição."

"O ano passado foi terrível para a venda de imóveis, e 2009 não parece melhor. Nós continuaremos, no entanto, a realizar operações quando houver oportunidades a preços sensatos."

Sobre novas bolhas
"Quando a história financeira desta década for escrita, certamente ela falará sobre a bolha da internet no final dos anos 90 e da bolha imobiliária nos últimos anos. Mas a bolha do mercado de títulos do Tesouro americano gerada a partir do final de 2008 poderá ser lembrada como algo quase tão extraordinário."

"Os governos locais terão de enfrentar problemas fiscais mais severos no futuro do que os que estão sendo visto até agora. As dívidas previdenciárias sobre as quais eu falei no balanço anual divulgado no ano passado serão um grande contribuinte para esses infortúnios. Muitas cidades e estados ficaram horrorizados quando analisaram o orçamento no final de 2008. A diferença entre os ativos e o valor atuarial real de suas dívidas é simplesmente incrível."

Sobre o desempenho do Berkshire
"Durante 2008 eu fiz alguns investimentos estúpidos. Eu cometi ao menos um grande erro por delegar poderes e outros equívocos menores que também machucaram. Além disso, eu cometi erros por omissão, chupando meu dedo enquanto fatos novos surgiam e que deveriam ter me levado a reexaminar minhas convicções e a agir prontamente."

"No final do ano, investidores de todas as classes estavam sangrando e confusos, como se fossem pequenos passarinhos perdidos em um jogo de badminton."

"O Berkshire sempre foi um comprador de empresas e de ações, e o desarranjo nos mercados deu uma freada em nossas aquisições. Se for investir, lembre-se que o pessimismo é nosso amigo e a euforia é o inimigo."

"O valor de mercado dos títulos e ações que continuamos a possuir sofreu um declínio significativo, assim como o mercado em geral. Isso não deve me chatear. Aliás, eu gosto da queda de preços desde que tenha mais dinheiro disponível para aumentar minhas posições."

"Alguns anos atrás nossos competidores faziam algo chamado de ‘aquisições alavancadas’. Mas esse se tornou um nome ruim. Então essas empresas decidiram mudar de nome. O que elas faziam não mudou na essência, inclusive o gosto pelas aquisições alavancadas. Só que a nova denominação sob a qual eles trabalham passou a ser de fundos de private equity."

Fonte: Portal Exame

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