segunda-feira, 9 de março de 2009

Warren Buffett - Visão sobre a crise

Megainvestidor elogia ação do governo, alerta sobre bolha dos títulos públicos nos EUA e vê crise duradoura, mas aposta em superação.

O fundo Berkshire Hathaway teve em 2008 seu pior ano desde que começou a ser controlado pelo mega investidor Warren Buffett, na década de 60. O lucro do fundo caiu 62%, com o pior resultado concentrado no quarto trimestre. Na tradicional carta anual aos acionistas, Buffett, considerado o homem mais rico do mundo pela revista "Forbes", defendeu a atuação do governo dos Estados Unidos contra a crise e admitiu que cometeu uma série de equívocos. O megainvestidor alertou ainda para a formação de uma bolha no mercado americano de títulos públicos e admitiu que a crise pode ir além de 2009, mas mostrou otimismo com a capacidade da economia dos EUA em superar desafios. Veja abaixo alguns dos principais pontos da carta:

"Nós estamos certos, por exemplo, que a economia vai se arrastar durante 2009 - e provavelmente por mais tempo que isso. Mas isso não nos diz se o mercado de ações vai subir ou cair nos próximos meses."

"Nós vivemos uma disfunção do mercado de crédito, que rapidamente se tornou não-funcional em diversos aspectos. A senha ao redor do país é a mesma que eu via nas paredes de restaurantes quando eu era jovem: ‘Em Deus nós confiamos; todos os demais pagam em dinheiro’."

"A espiral degenerativa da economia obrigou o governo a tomar medidas em massa. Usando o vocabulário do pôquer, o Tesouro e o Fed [Federal Reserve, o banco central dos EUA] estão apostando todas as suas fichas. O remédio econômico tem sido distribuído a rodo. Essas doses, impensáveis há algum tempo, quase certamente terão seus efeitos colaterais. Cada um pode tentar adivinhar que efeitos serão esses, embora eu acredite que uma consequência provável seja um ataque inflacionário."

"Uma ação forte e imediata do governo era necessária no ano passado para evitar o total colapso do sistema financeiro. Se isso tivesse ocorrido, as consequências para todos os setores da economia teriam sido terríveis. Gostem ou não, os habitantes de Wall Street, Main Street e outras várias Side Streets de nosso país estão todos no mesmo barco."

"Em meio a essas más notícias, no entanto, nunca se esqueça de que nosso país teve de enfrentar dificuldades muito maiores no passado. (...) Nós superamos elas, sem falhar (...) Nossos melhores dias ainda estão por vir."

Sobre os derivativos de crédito
"Aumentar a transparência é o remédio favorito de políticos, comentaristas e órgãos reguladores das finanças para evitar que o trem volte a sair dos trilhos, mas isso não resolve o problema dos derivativos. Eu não conheço nenhum mecanismo de divulgação que chega perto de descrever e mensurar os riscos de um enorme e complexo portfólio de derivativos. Auditores não conseguem auditar esses contratos, e reguladores não conseguem regulá-los.

Quando eu leio as páginas de divulgação dessas informações no balanço das empresas, tudo que eu descubro é que eu não faço idéia do que está acontecendo em seus portfólios (e então eu procuro alguma aspirina)."

Sobre o mercado imobiliário
"A atual ruína do mercado imobiliário deveria servir como lições simples para compradores de casas, bancos, corretores e governos. A aquisição de casas deveria exigir o pagamento à vista de ao menos 10% do valor do imóvel e prestações mensais que caibam confortavelmente no orçamento do mutuário. A renda do comprador deveria ser cuidadosamente examinada."

"Colocar pessoas em casas, apesar de ser uma meta desejável, não deveria ser o primeiro objetivo de nosso país. Manter essas pessoas em suas casas deve ser a nossa ambição."

"O ano passado foi terrível para a venda de imóveis, e 2009 não parece melhor. Nós continuaremos, no entanto, a realizar operações quando houver oportunidades a preços sensatos."

Sobre novas bolhas
"Quando a história financeira desta década for escrita, certamente ela falará sobre a bolha da internet no final dos anos 90 e da bolha imobiliária nos últimos anos. Mas a bolha do mercado de títulos do Tesouro americano gerada a partir do final de 2008 poderá ser lembrada como algo quase tão extraordinário."

"Os governos locais terão de enfrentar problemas fiscais mais severos no futuro do que os que estão sendo visto até agora. As dívidas previdenciárias sobre as quais eu falei no balanço anual divulgado no ano passado serão um grande contribuinte para esses infortúnios. Muitas cidades e estados ficaram horrorizados quando analisaram o orçamento no final de 2008. A diferença entre os ativos e o valor atuarial real de suas dívidas é simplesmente incrível."

Sobre o desempenho do Berkshire
"Durante 2008 eu fiz alguns investimentos estúpidos. Eu cometi ao menos um grande erro por delegar poderes e outros equívocos menores que também machucaram. Além disso, eu cometi erros por omissão, chupando meu dedo enquanto fatos novos surgiam e que deveriam ter me levado a reexaminar minhas convicções e a agir prontamente."

"No final do ano, investidores de todas as classes estavam sangrando e confusos, como se fossem pequenos passarinhos perdidos em um jogo de badminton."

"O Berkshire sempre foi um comprador de empresas e de ações, e o desarranjo nos mercados deu uma freada em nossas aquisições. Se for investir, lembre-se que o pessimismo é nosso amigo e a euforia é o inimigo."

"O valor de mercado dos títulos e ações que continuamos a possuir sofreu um declínio significativo, assim como o mercado em geral. Isso não deve me chatear. Aliás, eu gosto da queda de preços desde que tenha mais dinheiro disponível para aumentar minhas posições."

"Alguns anos atrás nossos competidores faziam algo chamado de ‘aquisições alavancadas’. Mas esse se tornou um nome ruim. Então essas empresas decidiram mudar de nome. O que elas faziam não mudou na essência, inclusive o gosto pelas aquisições alavancadas. Só que a nova denominação sob a qual eles trabalham passou a ser de fundos de private equity."

Fonte: Portal Exame

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